Julho
É julho outra vez...
Três vezes depois,
é julho outra vez...
Julho é sempre julho...
Nós não somos mais
os mesmos de lá...
O orvalho rabiscou
uma lágrima na vidraça...
A vaidade estilhaçou
a coroa de princesa
em mil pedaços...
Os cortes mais profundos
atormentam a alma...
Culpas, meu bem, culpas...
Sabia que a rejeição dói?
Muitos julhos atrás,
inabalável era a fé no amor.
Hoje?
Não resta nem sequer indícios
de que haverá primavera...
Julho é sempre julho...
Aconchegante,
bonito e encantador...
Assim pode se apresentar
um falso amor...
Três julhos atrás
um sorriso foi o estopim.
O estopim do fim.
Do fim da minha inocência...
Do fim da minha vida...
Do fim de uma era...
E sorrateiramente o inverno
se prolongou até se confundir
com as outras estações...
Julho é sempre julho,
Mas minha poesia é espinho.
E espinho não rima com amor.
Minha alma se tortura,
Fiz muitas escolhas erradas,
Não me habilito a nada prometer,
Sobretudo aquilo que não tenho.
Três julhos atrás, eu era capaz...
Eu ainda era gente, podia amar.
Julho é sempre julho...
Meu dom de amar é memória,
Sugiro que façamos
um minuto de silêncio por ele.