Cartas (Pequenos registros de solidão)
Nesses dias de horas tão demoradas
Eu escrevo grandes cartas
Tristes versos
Eu caminho grandes ruas
Velhos desgostos
Minha vida em branco em preto
Minha falta de viver
Lembram tudo o que não tenho
Tudo o que fica
Nesse vazio tão grande e tão degradado
Essas cartas eu rasgo em um momento
Em um delírio de ódio eu rasgo
Eu passo por esses dias sozinho
E onde é que vou parar?
A resposta está em algum lugar
Perdida como gota de tinta naqueles inúmeros versos
Pedaços de papel rasgado desesperadamente
Em um gesto de angústia
Um gesto de morte
Nesses dias tão só
Eu gasto canetas com bobagens
Escrevendo versos de um amor que não existe
Memórias de um passado que não vivi
Desilusões de alguém que não amei
Queria poder dizer um dia que sei do que escrevo
Que realmente senti algo além desse vazio sem fim
Quem sabe num passado imemorável
Ou num futuro inalcançável
Possa sentir isso, ou dizer que senti.
Possa viver o que quero, ou dizer que um dia vivi.
Nesses dias de chuva tão fria
Nesse tão belo segundo
A melodia que toca
É a melodia que nunca sequer ouvi
Que espero um dia saber cantar
É a melodia que vejo estampada no rosto de quem ama
Nessas cartas tão velhas
Deixo pequenos registros
De esquecimento e vastidão
Pequenos pedaços de papeis guardados
Com momentos em que desabei em delírios frios
Momentos de desejo eterno
Que logo vão passar junto de quem escreve as cartas
Mas elas, as cartas, ficarão...
Num sôfrego e eterno registro de solidão