Clandestino

Desde menino minha sina é viver de forma clandestina

Nesse navio pequeno o destino é pequenino

Me arranjo de qualquer forma

Durmo de qualquer jeito

Disfarço o marasmo como posso

A viagem nem sempre é tranquila

Mas olho o horizonte com fome de descobrimentos

Na verdade, sei que sou um desbravador sem poder aquisitivo

As parcelas da vida me assaltam todo dia

Meu disfarce pode ser identificado sem muita investigação

Mas ninguém olha pra mim

O óbvio não é notado

E viajamos da mesma forma, então

Desde menino sou um clandestino

O roteiro é incerto

As paixões são violentas

A moça não pode ficar por perto

As tradições são uma tormenta

Mais uma face dessa vida de evadido

Que só esqueço quando a barra do dia arrebenta

O navio não possui âncora

As velas estão sempre içadas

O calor do dia e o frio da madrugada contruiram um crosta na minha pele

Uma armadura já com ar de enferrujada

Sou um clandestino nesse mundo de destinos incertos

Quem eu quis não pôde ficar por perto

Meu peito deserto é um cemitério de paixões involucrais

Meu braço forte foi forjado nas tempestades torrenciais

Não quero chegar no cais

Não quero atracar

Acostumei-me ao erro com certo grau de pertenciemento

Essas linhas não formam um lamento

Nem um libelo endereçado a quem eu decepcionei

Esse poema é uma declaração de amor ao horizonte

Um castelo sem pontes é o que sou

De forma clandestina construí minha sina

Sem lugar para ir e sem querer ficar

O dia sempre chega

Tenho ainda por navegar

Será?

Marcos Frank
Enviado por Marcos Frank em 26/11/2024
Reeditado em 26/11/2024
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