Clandestino
Desde menino minha sina é viver de forma clandestina
Nesse navio pequeno o destino é pequenino
Me arranjo de qualquer forma
Durmo de qualquer jeito
Disfarço o marasmo como posso
A viagem nem sempre é tranquila
Mas olho o horizonte com fome de descobrimentos
Na verdade, sei que sou um desbravador sem poder aquisitivo
As parcelas da vida me assaltam todo dia
Meu disfarce pode ser identificado sem muita investigação
Mas ninguém olha pra mim
O óbvio não é notado
E viajamos da mesma forma, então
Desde menino sou um clandestino
O roteiro é incerto
As paixões são violentas
A moça não pode ficar por perto
As tradições são uma tormenta
Mais uma face dessa vida de evadido
Que só esqueço quando a barra do dia arrebenta
O navio não possui âncora
As velas estão sempre içadas
O calor do dia e o frio da madrugada contruiram um crosta na minha pele
Uma armadura já com ar de enferrujada
Sou um clandestino nesse mundo de destinos incertos
Quem eu quis não pôde ficar por perto
Meu peito deserto é um cemitério de paixões involucrais
Meu braço forte foi forjado nas tempestades torrenciais
Não quero chegar no cais
Não quero atracar
Acostumei-me ao erro com certo grau de pertenciemento
Essas linhas não formam um lamento
Nem um libelo endereçado a quem eu decepcionei
Esse poema é uma declaração de amor ao horizonte
Um castelo sem pontes é o que sou
De forma clandestina construí minha sina
Sem lugar para ir e sem querer ficar
O dia sempre chega
Tenho ainda por navegar
Será?