Silêncio
Não me lembro a última vez
que permaneci em silêncio...
Inspira, expira... ah!
bater das asas de um pássaro,
piscar lentamente, saborear o ar!
Desconheço o silêncio
o rangir dos passos, o articular do corpo,
o bocejar leve, entreaberto
e os olhos úmidos no amanhecer...
Desaprendi de silenciar,
de tropeçar no meu sorriso,
me acarinhar no inesperado,
espreguiçar as esperanças e viver...
Quanta saudade de um bom silêncio
furtivo e criativo nas brincadeiras de criança,
um silêncio a espera de nada,
olhos na janela a contemplar a chuva...
Desenhos feitos com gravetos,
grandeza muda ao ver o mar,
tempo pros sentimentos mais lindos,
mais eternos, mais comoventes...
No silêncio, admirar os badalos do relógio
ignorar seu significado, seu grito!
Prostar-me diante a uma velha foto, um sorriso largo
feito apenas de contemplação e vento.
Saudade do silêncio!
Se hoje me calo, não permaneço em silêncio
gritam até as entranhas do meu coração!
Sufocam os pensamentos, amargam a vida,
doem o corpo...
Aguardo o próximo silêncio,
dedos abraçados na xícara de chá,
respiração profunda, um poema,
uma vela, um livro, silêncio!