POLHAÇO, O POETA PALHAÇO
Sabe, acho que nunca serei dela.
Na verdade, nunca serei de ninguém;
Pois quem quereria um poeta sem – ETA –?
É pior que um palhaço insistente, mas que nunca fez rir.
Aliás, se me perdoasse o mago do picadeiro,
Eu assim também me denominaria.
Ou, talvez, na junção com o que me resta,
Criasse e atribuísse-me a alcunha de POLHAÇO.
Se é do palhaço fazer rir,
Será que devo fazer chorar?
Ou talvez tirar das bocas um indiferente – OH! –,
Não de admiração, mas de desgosto e decepção?
Caso os senhores que em torno de mim fazem roda,
Com seus sorrisos cépticos queiram dizer que sim.
Furtam-me, patrício, de ser também ladrão de mulher
E descortinam a visão de ser mendigo dela.
Riem da minha condição rota e degradante,
A suplicar uma migalha de sorriso,
A implorar uma centelha de olhar,
A rogar um momento da atenção dela.
Será que o chapéu de cone e o nariz de bola,
Mascaram a minha fria e cruel realidade,
De ter nas mãos reinos e musas de sonhos,
E os pés enterrados no mais frio e áspero chão?
Pois que estou agora diante dela,
Embora imperceptível ao olhar e fora do alcance das mãos.
Inodoro ao olfato e sem ruídos a audição.
Mas eu a olho, toco, cheiro e ouço, se minh'alma vagar.
E se esses aplausos são por ter sido bem sucedido,
Curvo-me – obrigado – o show vai continuar!
Pois que sei das correntes do martírio do palco do delírio,
Da paixão que me arrasta, menestrel sem rima, a deseja-la.