Bela Andressa
Paga-me um vinho, bela Andressa
Que o que vês é um poeta sem amparo,
De bolsos rotos, de peito amuado
Dos amores que tive noite passada.
Estou triste como quem está para morrer,
Sonhei com a dama que sempre requisitei
Deuses sua mão não cederam, e assim sequei
Toda fonte de esperança que tinha por manter.
Dê-me vinho e canta-me, boa Andressa
A canção dos abandonados e dos inválidos;
Salve a alma de quem foi por si condenado
Às galés do egoísmo e ao exílio dos montes.
Triste, amiga, o peito de artista
O fado invencível de ser poeta
Ser maltratado por mil bestas pífias,
E terminar só, andando pelas vias.
Ou fiquemos ébrios juntos, Andressa
Que honremos Baco ombro a ombro
Nas festas alegres e nos banquetes fartos
Que por todo lado havemos de encontrar.
Felizes ainda, com o que nos topemos
Dois perdidos na selva da noite;
Mais contentes que os reis e os magnatas
Mais ébrios que os seres da madrugada.