Exílio de mim
Ah! essa solidão que me abraça!
A minha sombra velha e companheira,
que como um livro, a sós, na prateleira,
serve de alimento para a traça!
Há anos minha vida segue, e passa,
e deixa o meu passado num retrato,
e sigo a dividir o mesmo prato,
que um dia foi servido para a traça.
Algo de mim serviu-me de mordaça:
roubou-me a voz, a vez, a inspiração...
e me pôs a marchar, em procissão,
por onde a poesia já não grassa.
Ainda assim, eu ergo a minha taça
para brindar, a sós, a solidão!