Decepção

Meus passos nunca foram poéticos

Eles sempre foram meio tortos

E com um quê de decepção...

Minha poesia nunca foi tão poética

Mas eu sempre deixei rascunhos espalhados nos espaços mudos

Como elipses em longos caminhos escuros

Cheios de turbulências

E com um quê de decepção...

Eu me sinto exausto

Sem um ritmo singular

Que faz de mim quem sou

Ante as sombras estáticas de uma luz fraca,

Pois eu estendi meu peito sobre o papel

E me achegou apenas o silêncio

Sem a comunhão de sons e palavras

Em que eu pudesse te ver...

Então, diante da monotonia de versos que não te afetam mais

Eu calo as minhas pálpebras

E olho para minhas mãos frias que já não podem escrever

Que se perdeu na irracionalidade das noites claras,

Porque não me deixas dormir?

Pois a tua visão quieta e doce

Penetra meu pensar

Pousando em minha angústia

Como uma religiosa oração desesperada,

Mas muito me és, mas muito me falta

Nesse meu exílio de poemas mortos

Que nunca pude escrever,

Pois não pensarei em te,

Nem na noite iluminada por tua presença,

Pois tua luz para mim, é saudade

Que não me permitirei sentir

Nem deixarei que sinta teu abandono antes de te ter,

Pois eu nem à conheço...

Tuas carícias sempre estiveram tão longo

E teu olhar sempre tão preocupados

Eternamente fixos em algum ponto fora de mim,

Do meu peito vago

Que nunca pensaste em fazer morada,

Mas o que eu quero dizer?

Minha poesia nunca foi tão poética,

Mas eu sempre deixei rascunhos espalhados pelos espaços mudos

Tão cheios de murmúrios

E com um quê de decepção.

Glemeson Cadete