Entre a vida e morte

Sou poeta de mim

E do quer que seja

Faço-me e me reinvento na sintonia obscura do tempo

Calejo dum lado

Fraquejo entre viver e morrer

Ao destino me faço inocente

Tagarelo o incerto

E regozijo o temperamento

Cambaleando nas vertentes que a prudência me impõe

Quando me perco no caminho

O rumo já há muito bagunçado

Dá-se um jeito de prosseguir

Ponho minha venda

Deleto minha mente e a tortura recomeça

Até tudo em mim clamar socorro

Sou uma reles poeta

Que carece de choro e de colo

Afinal

quem sou?

O vento que me acerta em cheio vorazmente

Lembra-me que tenho medo

Medo!

E não, jamais, isenta da agonia de viver

Apresso-me na inquietude

Tudo me parece ligeiro demais

Não há em mim algo que desacelere o ritmo do coração

Ele corre como se precisasse esgotar cada partícula de ar

Num grito frustrante de socorro

Meu peito queima

E o passo tênue entre a vida e a morte

Afina, de hora em hora

Agora...

Nem sei

Caio prum lado

Caio pro outro

A incerteza é a agonia da alma...