(Dança da solidão)
“É sobretudo na solidão que se sente a vantagem de viver com alguém que saiba pensar.” Rousseau, Jean Jacques
Esta cama sem você é muito fria.
Nem este drinque me acalora...
Derrete o meu fígado,
que esguicha sangue
por entre as almofadas,
mas não me faz mais feliz.
Na calma da noite, lá fora,
os indivíduos solitários
caminham sem rumo.
Vão com a cabeça na lua,
atarracados na esperança
de ter o amor que sonham...
Metade marchará em vão a vida toda!
Para continuarem vivos,
necessitam acreditar.
Meninos sonhadores
em corpos de homens
carentes de alma e calma,
presos nas grades de uma saudade.
Dos seus passos no chão,
saem canções de ninar
gente grande...
Embalados nesta música,
os afortunados da vida
acendem os corações,
e se amam por entre
as paredes muda-surdas de suas casas.
O amor que aquece o mundo
fica sempre longe deste leito.
O que raras vezes acalora
e acalma minha alma,
é a alma deste aperitivo...
Ela, que loucamente baila
na música que surge
do contato das pedras
de gelo deste copo bêbado.
Quero ver quem não chora
quando chora a madrugada.
O triste lamento da alta noite
é pior que lamúria de homem...
Machuca na alma da gente
e o coração persiste em bater
para fazer mais padecer quem
foi incapaz de amar acertado.
Nem mesmo o calor do novo dia
faz sair de dentro de mim
o frio da saudade.
É dentro do peito
que ele se esconde,
onde o atrevido sol
não alcança e não bate.
É aqui onde dançam
a dança da solidão...
É aqui onde mora
a agonia do mundo.
Sou eu quem a suporto
por sobre meus ombros
já vergados pela dor de ser sozinho.