Pólvora
Hoje ganhei coragem para falar o que sinto,
Mas acabei por nada dizer.
O que é que há de errado comigo?
Querer é poder, certo?
Não me mintam!
Sabes o que é que eu sinto que sou?
Um corpo deambulante, sem vida, talvez,
Mortificado, paralisado.
Vazio, sem brilho, acabado de vez…
Sou um corpo estranho.
Neste mundo esquizofrénico
Sou lento demais, fora de tamanho.
As peças desconectam-se
Maldita humilhação que entranho!
Deus, por favor, ajuda-me a ultrapassar isto!
Não me prometas amor eterno,
Quero uma razão para que existo
E nada disto
Faz sangrar teu filho, cego e mutilado,
Jesus Cristo, salvador,
Sacrifica o teu esplendor
Pela minha existência.
A cada Sol que sob aos céus,
E a cada a Lua que cai no abismo,
Eu vou morrendo, aos poucos,
Vou desintegrando à passagem do vento
Até restar um monte de ossos.
Todos recordarão
O dia em que eu disse o que pensava,
Finalmente, pela primeira vez
E pela última também.
Tudo se resumiu a chumbo…
E pólvora.