ARAPONGA EM DOR
O quarto emoldura as saudades que ninam a sua alma. Sim, ela ali está, suavemente enroscada em seus lençois. As rétias de luzes da cidade adentram-lhe o quarto, numa penumbra que lhe consome, envolve-lhe e lhe arrebata a alma. A fotografia em suas mãos são a fidelidade autêntica da dor cantarolada na alma, pela alma, num furor que lhe assola. Nos doces lábios, um falsete de voz a se soltar:
Eu sou uma araponga errante
Que bate as asas ao luar
Que já não sente o frio cortante
De fortes dores a cortar
De fortes dores a cortar
Eu me enlaço de amargura
Já não consigo um voo alçar
Sozinha me fecho em armadura
Sozinha me fecho em armadura
Numa torre de vidro e marfim
Quero por fim a esta agrura
Sentir-me livre, partir enfim
Sentir-me livre, partir enfim
Alçando meus voos tão errantes
Sou araponga, não vivo assim
Tenho trajetória itinerante