ARAPONGA EM DOR

O quarto emoldura as saudades que ninam a sua alma. Sim, ela ali está, suavemente enroscada em seus lençois. As rétias de luzes da cidade adentram-lhe o quarto, numa penumbra que lhe consome, envolve-lhe e lhe arrebata a alma. A fotografia em suas mãos são a fidelidade autêntica da dor cantarolada na alma, pela alma, num furor que lhe assola. Nos doces lábios, um falsete de voz a se soltar:

Eu sou uma araponga errante

Que bate as asas ao luar

Que já não sente o frio cortante

De fortes dores a cortar

De fortes dores a cortar

Eu me enlaço de amargura

Já não consigo um voo alçar

Sozinha me fecho em armadura

Sozinha me fecho em armadura

Numa torre de vidro e marfim

Quero por fim a esta agrura

Sentir-me livre, partir enfim

Sentir-me livre, partir enfim

Alçando meus voos tão errantes

Sou araponga, não vivo assim

Tenho trajetória itinerante

Nonato Costa
Enviado por Nonato Costa em 22/05/2015
Reeditado em 22/05/2015
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