POLAR
Há um pouco de mim errante
em algum polo...
Não sei se Ártico ou Antártico.
O que sei é que há um corpo não encontrado.
- Uma geleira perdida num coração polar...
Eternamente?
- Um navio naufragado em algum braço...
Irremediavelmente?
Não sei...
O que sei é que inda há um corpo vivo...
E uma promessa balançando ao vento frio;
desfraldada no mastro de algum veleiro
que inda ousa cruzar meus mares gelados...
Minhas ilhas... Meus corais...
Mas sei que os meus naufrágios
foram tantos...
Tantos, que preferi congelar-me
num geometria mágica e branca.
-Num oceano imaginário
aberto em cada verso dum poema...
E o poema era a rota mais certa
para encontrar o corpo imaterial.
Ou mais incerta? Não sei...
O que sei é que nascia do desejo.
Ou das marés invernais. Nas suas inconstâncias...
E penso que foi por elas que me norteei
quando o vento quis dispersar-me...
E quando o calor quis diluir minhas memórias...
Senão estaria perdida para sempre
nessa essência polar...
Autor imagem: Pawel Murczak - disponível em : http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=24874