Acorde mágico


Os acordes de violão
abordam o momento
de lirismo híbrido e fugaz.

Lá fora mora uma inércia
onde há
o pólen suspenso no ar
a criar uma primavera potencial.

E tudo me lembra você.
Os perfumes mais discretos,
os ruídos banais e cotidianos.
O suor, o arfar e os passos no
corredor a compassar
o metabolismo explosivo.

Sua presença entranhou-se
na sala.
E trouxe um mal-estar
contagioso.

Novos acordes
e o alumbramento.
Notas musicais lascivas
se esfregam nos corpos
dos amantes.

Lá fora o planeta inteiro
dorme alheio
as ameaças de mau tempo,
as bombas atômicas,
e, ao jogo de poder.

Na serenata sem luar
há muito romance diluído
nos olhos.
E há cegueiras absolutas
concentradas
nas trevas.

Há um tatear instintivo.
Há uma escultura lógica
acessível às mãos.

Medieval é a lágrima
que em plena prece
só faz comiserar-se
diante do altar.
Por causa
da geografia, genética
e história.

Somos culpados.
Sem julgamento e arrependimento.
Somos apenas culpados
de cultivar amores impossíveis.

Abismos prováveis.
Almas descartáveis.
E, um dom funesto de querer
ser feliz em tudo.

Meus sentimentos agudos
cantam a última ária.
Cheios de dramaticidade
Preconizam a morte teatral
e a phoenix automática.

Esses acordes novamente.
Esse dedilhado.
E a mágica se instaura
imediatamente
no silencio entreolhado.

A mágica é a conjuntura de tempo,
lugar e almas
a dançar o ritual do fogo.
Na cumplicidade do lago.
Frio e abissal.

 
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 20/05/2014
Reeditado em 20/05/2014
Código do texto: T4813950
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