O silêncio

Por muito pouco eu fui quase.

Quase um Papai Noel aventurado, um estivador sem músculos,

um corpo sem alma, uma alma sem espírito, um dia sem dia, um

amanhecer acordado, um sono sem graça, um sorriso sem motivo,

um motivo sem gargalhar.

Por muito pouco eu fui quase.

Quase uma pessoa decente, uma alma sem corpo, uma noite

sem noite, um acordar anoitecendo, uma graça sem sono, uma tristeza

sem motivo e um motivo pra chorar.

Por muito pouco eu fui quase.

Quase um punhado de luzes, uma busca sem encontro, um desencontro

sem retorno e uma verdadeira vontade de ter sido apenas quase.

E por muito pouco eu fui quase.

Quase um poeta sem letras, um operário sem ofício, um vício sem jogo,

uma morte que não busca, uma busca que promete mas não cumpre,

um quase que não se contenta e um contente que não se basta.

Por muito pouco eu quase fui bastante.

Quase acreditei, quase me redimi, quase me perdoei, quase chorei,

Quase me agredi e percebi que ser quase não me preenche.