A Diferença

Sem medo, ousei cruzar o umbral que me separa dos outros.

Cumprimentei estranhos nas ruas,

Brinquei com crianças em parques,

Acarinhei cachorros sarnentos,

Ouvi histórias dos velhos,

Bebi café com amigos.

Primeiro, senti-me bem.

Percebi que não difiro deles nem um fio de cabelo

E que todos os pensamentos do mundo não passam

De fragmentos de um mosaico do qual o todo nos escapa.

Por momentos, senti-me pleno como se não houvesse o dia de amanhã.

Mas essa impressão me deixou e, sozinho em meu quarto, um vazio me inundou.

Eu não era igual a nenhum outro, nada a eles me ligava.

A solidão que era minha, minha somente era.

Os sonhos de minhas noites inquietas cérebro algum sonhava.

As tristezas que em meu peito jazem a nenhum outro oprimem.

Não há mosaico, apenas cacos.

Não há unidade, apenas diferença.

No silêncio, meus olhos derramaram lágrimas

E nenhuma outra alma chorava comigo ou por mim.