CAMINHO

Ela segue seu caminho, um caminho novo que ela escolheu sozinha. Não é um caminho mais fácil nem mais bonito que o antigo. É apenas um outro caminho, diferente.

Não olha pra frente, olha pro chão. Por isso ela não sabe como o caminho será depois. Ela só sabe como ele é agora. Ela olha pra baixo, pros seus pés. Pés descalços que procuram um pouco de grama macia para pisar, tentando desviar das pedras. Seus pés não param de andar. Ela gostaria de parar às vezes e se sentar à beira do caminho para apenas observar. Mas seus pés insistem em continuar andando.

Um vestido longo e azul cobre seu corpo. É um vestido bem comprido e fino, que a menor brisa faz com que balance. Às vezes dá a impressão de estar dançando, com o vestido rodado bem esvoaçante. Mas é apenas o vento balançando o vestido.

Às vezes ela encontra alguém pelo caminho, às vezes ela está só. Às vezes sente como se nem ela mesmo estivesse ali. Talvez não esteja mesmo.

Lá atrás ficaram as crianças, rindo e brincando com a beleza da vida. Dá pra ouvir ainda os risos das crianças que ficaram lá atrás, bem longe. Ela gostaria de voltar lá e ficar com as crianças, brincando. Mas ela não pode, não dá pra voltar. E olhar pra trás dói. Ela olha pro chão. De vez em quando ela ri por causa de um pensamento bom. Outras vezes, uma lágrima, uma única lágrima, corta seu rosto sem permissão. Mas é uma lágrima sozinha, que não diz nada.

Ela continua seu caminho, desviando das pedras, procurando uma grama macia, colhendo as poucas flores que encontra e que logo murcham. Não olha pra frente, apenas pra baixo, apenas pra dentro de si mesma. E tenta sorrir.