No sofá

Há dias me sento aqui.

Descanso o óculos na mesinha ao lado

E encho meu copo com água.

De longe, escuto um ruído

Talvez seja a TV, talvez seja o rádio

E pego o isqueiro que há tempos guardava.

O cigarro ainda pende nos dedos,

Como a moeda que ficava em minhas mãos.

Seriam moedas? Seriam vidas? Sei não.

Sei pouco sobre essa coisa de espíritos pobres,

Sei da minha cabeleira branca e dos meus dentes podres.

Seriam os dentes? Seria a alma? Sei não.

Só sei que meu corpo parece bonito,

Mas aqui dentro ta tudo tão feio.

Tão perdido.

A noite já caiu tentando arrastar minhas lágrimas.

Pintaram o céu de preto

Pra ninguém ver - na minha cara –

O que a solidão consegue fazer.

Ouço de longe o relógio marcando a meia noite,

É tão tarde! Para mim, para você. Para nós.

O cigarro está no chão, juntamente com o óculos.

Largado na cadeira, encontra-se o homem só.

“Dessa noite eu não passo”

Pensou pela última vez

O velho que perdeu seu coração

E tentou sobreviver sem se lembrar.

Agnes Gomes
Enviado por Agnes Gomes em 02/12/2011
Reeditado em 02/12/2011
Código do texto: T3368171
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.