No sofá
Há dias me sento aqui.
Descanso o óculos na mesinha ao lado
E encho meu copo com água.
De longe, escuto um ruído
Talvez seja a TV, talvez seja o rádio
E pego o isqueiro que há tempos guardava.
O cigarro ainda pende nos dedos,
Como a moeda que ficava em minhas mãos.
Seriam moedas? Seriam vidas? Sei não.
Sei pouco sobre essa coisa de espíritos pobres,
Sei da minha cabeleira branca e dos meus dentes podres.
Seriam os dentes? Seria a alma? Sei não.
Só sei que meu corpo parece bonito,
Mas aqui dentro ta tudo tão feio.
Tão perdido.
A noite já caiu tentando arrastar minhas lágrimas.
Pintaram o céu de preto
Pra ninguém ver - na minha cara –
O que a solidão consegue fazer.
Ouço de longe o relógio marcando a meia noite,
É tão tarde! Para mim, para você. Para nós.
O cigarro está no chão, juntamente com o óculos.
Largado na cadeira, encontra-se o homem só.
“Dessa noite eu não passo”
Pensou pela última vez
O velho que perdeu seu coração
E tentou sobreviver sem se lembrar.