SOFIA

Quantos livros tu compras por semana?

Foi o que ela me perguntou logo depois

Do primeiro natal em que minha cama

Estava vazia por decorrência de sua partida.

Entrou em minha casa como se ainda tivesse

A chave que fica embaixo da planta murcha.

Talvez fosse um espírito

que atravessava as paredes!

Vestia um vestido de seda rico que nunca pude dar,

O pescoço adornado com pérolas maiores

Que os furúnculos que eu tinha nos pés,

Seus sapatos não tocavam no chão

e seu perfume tinha uma brisa de espera.

Por que voltaste? Por que voltaste?

Não bastava ter tirado a posse

De todos os móveis, de cada migalha de mim!

Mas quando ela passava não ligava

Para pobreza que rondava aquela casa

Que nunca mais teve as portas abertas.

Somente soube enxergar as pilhas de livros

Nas paredes, nos vasos, na pia, na mesa,

Nas estantes, no piso, no banheiro,

Toda a casa infestada deles

Por isso me perguntou se eu os comprava

E foi embora quando lhe respondi

que até nosso anel enferrujado eu vendi

para suprir a solidão de sua falta.

(Do Livro "Para Ninguém")

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 26/10/2011
Reeditado em 31/10/2011
Código do texto: T3298909
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