Blusa de lã
Enquanto o poeta navega na palavra como passageiro
A rima no ar fica suspensa
Na calmaria do amanhecer surge o nevoeiro
Da noite em que o poeta não cochilou
Ficou na calada como estrangeiro.
Uma palavra como amiga que em meio a insônia voa
Com pessoas no andar de cima dançando
Esperando ansiosamente a brisa da manhã
Que ainda corta o olhar no horizonte
Corta os montes
Transpassa a curvas de qualquer ponte
E de tanto orvalho congelam a fonte
Enquanto só no vazio da folha o poeta vai desenhando
Como passageiro de uma poema que vai terminando
Sobre os raios da manhã
Se aquece junto ao seu caderno com uma blusa de lã.