Palavras de gente qualquer
Palavras indigentes, invisíveis letras
Assim como moradores de rua ao relento,
Deitados em um fino pedaço de espuma e enrolados em sacos plásticos, numa esquina qualquer tentando se aquecer.
Embaixo de uma marquise vestindo jornais com notícias ultrapassadas,
Mas não importa, pois a maioria nem sabe ler ou escrever o próprio nome.
Sem comida, banho e teto.
Trabalhadores de alguns sinais,
Vida ou morte, sorte e azar, dependendo da boa vontade dos demais.
Sinais sem cor desses corpos sem roupas,
Sem rostos, sem futuro e sem voz.
Carregam sujeiras presas aos poucos trapos, únicos fiapos de seres desiguais.
Imundices que combinam com os sentimentos que já não mais sentem pesar.
Sentimentos esfrangalhados desses desfacelados de um mundo que está prestes a desabar.
Calos e peles, piolhos e tristezas com jeito comum de gente qualquer.
Sabonete e xampu não têm preço,
Assim como a água ou a comida do dia-a-dia,
AH! Como queriam poder tomar uma sopa quentinha e comer umas fatias de pão dormido.
Ah! Como queriam uma cama quentinha para poder pensar que voltaram a ser gente.
Não há como esquecer os olhos pedintes,
Que imploram por alguns trocadinhos para comprar a cachaça que aquece o corpo em noites frias de inverno.
Indigentes... Que de gente nada mais guardam em si.