ANJO NEGRO
Hoje eu vi um anjo negro
Que pairava sobre os montes
E andava pelos mares
Devastando os lugares
Bebendo a água das fontes
Fontes de juventude, fontes de ilusão...
Hoje eu vi um anjo negro
Oh! Que vulto majestoso!
Me mostrava sua ira
Com seus olhos de safira
Que pareciam me cegar
Hoje eu vi um anjo negro
Que enrugava todo o céu no seu ato de voar
E sorria num deboche
- Você quer que eu te amostre?
- Que te ensine a debochar?
Perguntei ironizando:
- Se persegues minha vida
Vê se ela, tão sofrida
Não merece em paz estar?
Hoje eu vi um anjo negro
Pensei ser o anticristo
- Mas não seja, assim, por isto
- Pois eu também sei amar
Disse ele num grunhido
Zumbindo ao meu ouvido
Numa voz de assustar
- Não sou do apocalipse
- Não faço nenhum eclipse
- Mas também sei odiar!
Hoje eu vi um anjo negro
E falei: - É aparição!
Mas foi pura ilusão
Era tão somente minha solidão
A se manifestar
Escrito em 05 de agosto de 1991