CRENÇA
Primeiro, do meu céu estrelado,
levaram as estrelas mais bonitas.
A magia da lua cheia foi levada em seguida.
De minhas noites levaram o sono calmo e sereno.
De meu rosto arrancaram a beleza do antigo sorriso.
Dos olhos levaram o azul celestial e todo o seu brilho
Aos poucos sem que percebesse,
foram levando tudo que eu tinha.
Da infância levaram a inocência e todos os brinquedos.
insatisfeitos voltaram e levram minha crença na Virgem Maria.
De meu corpo levaram apenas coisas sem importância.
Das mãos levaram os dedos, anéis e uma antiga aliança.
Levaram também minha pele já envelhecida.
Depois voltaram é levaram minhas idéias subversivas.
Como não encontraram resistência penetraram em minha alma
e tentaram levar o que eu tinha de mais precioso.
Queriam levar a crença em Jesus Cristo Nosso Senhor!
Mas não deixei...
protestei aos gritos!
Pelos gritos de protesto arrancaram minha voz.
Furaram minha garganta e cortaram minha língua.
Deixaram num canto qualquer da velha varanda escurecida,
apenas fragmentos de uma pobre alma emudecida.
Insatisfeitos voltaram pela última vez,
ainda mais enfurecidos.
Como não posso mais protestar...
estão levando a minha vida!