Insula de Bernadete
Insula de Bernadete
Há séculos sou um homem insulado, preso em algemas que só eu mesmo percebo, condenado ao desterro em estrelas perdidas na imensidão do infinito.
Em outros tempos, tu, Bernadete, pegaste meu anel e escondeste. Desde então os deuses cospem em meu prato, estas lágrimas de sangue não param mais de jorrar.
Sobre meu corpo dançam trôpegas bacantes, minha alma encomendando, felizes: “Para o Hades”, é o que dizem, “do Aqueronte ele não pode voltar”.
Tétricas formigas me devoram aos pedaços lacerando minha carne revel. Em mares de fogo o Sol poente se esconde, a Lua nova escolta em esquife meu grito.
Pelos aeons cavalgo errante, Narciso amado e amante, ao Pleroma tateando encontrar, no escuro teu riso escandido lanterneia minha redoma esquecida.
Oh Medéia! Os argonautas te clamam, pugnai por um destino mais leve, protegei os meus sonhos tão breves, indicai a que rota seguir, em que porto seguro ancorar.
Doces sonhos, doces noites vividas; em tua magia o resgate acontece, da insula eu sou libertado, na insula prisioneira te faço – entre Scilla e Caribdes há uma ponte prá se atravessar.
Estas algemas, indeciso, não rompo, Prometeu acorrentado em sonhar. Bernadete, meu anel me devolva, em outras mãos o irei colocar, em outra insula compartir minha vida.
O sonho costuma preceder a Realidade, mas, em alguns casos, a realidade, avarenta que é, insula os nossos sonhos, colocando-os em desvãos nos quais permanecem até que um novo sonhador os venha resgatar. A escolha que se nos coloca em frente é: ser prisioneiros das lembranças dos sonhos que tivemos ou fazer de nossas vidas um sonho que valha a pena ser lembrado.
O resto é fazer apologia ao silêncio.
Cidade dos sonhos, tarde de Segunda Feira, com o mês de abril já caminhando para o seu findar.
João Bosco