EXTRAVIOS

Escapam-me as horas entre os dedos,
escorrendo feito água,
indo ao encontro do mar infinito.
E eu, que nada sei da eternidade,
perpetuo momentos
que parecem intermináveis,
imersa em ressentimentos,
abafando rancores
e sufocando meu próprio grito.

E assim,
segue meu tempo,
transcorrendo...
fragmentado
pela determinação de dias iguais,
substanciado em normalidades prosaicas
e fatais,
consumido pelo tédio absoluto
que a tudo absorve.
Sem medidas,
em segundos imperfeitos,
morrendo...

Perdi-me da verve dos acontecimentos
que distrai as contrariedades freqüentes, feito as prosas
e trazem de especial,
talvez algum sentido à vida.

Não divago
nas sensações de infelicidade
resignadas que são minhas penas,
não eu.

Juntando os pedaços
esparramados de tudo o que aconteceu,
minha mente reclama
a ausência de uma alma distante;
enquanto lástimas inesgotáveis
inundam esse meu solo infértil
como ácido corroendo,
dissolvendo possibilidades.

Infecundo,
o instante estagnado
petrifica as emoções.
Um amor desencontrado
é o criador das desilusões
submersas por carências
incompreendidas e derrotadas.

No amargor
de palavras ferinas,
emergem toda a raiva,
proferida à esmo
entre pausas estilhaçadas
e explosivas,
detentora de um tempo
onde as mágoas ainda são vivas.

Reside em jazigo perpétuo
a flor de minha inocência,
por quem ainda choro
minhas dores causadas
pela mesma ferida.

Embrulho-me
num manto de tristezas
que não cessam,
com a consciência absurda
desse abismo intransponível,
sensível e lamentando
cada esperança por mim
perdida...


23/07/2008
13h20



MORGANA CANTARELLI
Enviado por MORGANA CANTARELLI em 06/06/2009
Reeditado em 06/07/2013
Código do texto: T1635235
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