Tarjas pretas
O que eu quero?
Quero é me entorpecer!
Tomar um porre de melancolia
Ingerir pílulas sem bulas, sem receitas aviadas,
Apenas tarjas pretas para me sentir aliviada.
Estou tão cansada de tudo
Sinto-me sem ânimo, sem inspiração, de luto.
Sem sono varo a noite
Atrás de aconchego me perco
Encontro o breu, meu próprio buraco interno
Tenso e sem fim
O vazio que teci sem auxílio em mim.
Pessoas passam, vem e vão
E eu continuo aqui
Em pé, firme, tentando não quebrar o compasso
Eu sigo, pé ante pé, numa linha reta
Meu próprio passo.
Bebidas, pílulas, o mundo nos estraga
Minha cabeça grita, mãos aos ouvidos!
Não quero ouvir, nem fale!
Tarjas pretas é o que consigo engolir
É como me mantenho, nem repare.
Dia após dia
Garrafa após garrafa
Pílula após pílula
Ressaca após ressaca.
Tarjas pretas, comprimidos brancos
É o que consigo engolir
É devido a todo esse mal que me consume aos poucos
Que não consigo repelir a vontade
Malditas tarjas pretas que estou a consumir,
O estômago reclama
Mas só assim consigo dormir.