O Tesouro e o Ulcerado
Glaucos Horizontes! Ígneos faróis!
Harmonias de mundos e de sóis!
Belezas sem conta pela vasta esfera!
Segredos da alma e da atmosfera!
Quando volve o olhar acabrunhado
Pelo peso de preocupações o homem ulcerado
Nada encontra que lhe alegre o capricho?
Urra qual monstro, geme qual bicho.
Mesmo em meio aos riquíssimos tesouros
Todo engalanado de pompas e de ouros
O mísero mortal escuta a voz da cobiça
E com feroz orgulho faz mover-se a liça
Dos seus cuidados mil: trepa o céu; desce
Ao abismo; em paroxismo altos tesouros tece
E do ardente amor renega a cara prece
Enquanto o egoísmo morde e entretece.
Glaucos horizontes e enternecidos céus
Raro lhe afagam enchamecidos escarcéus
Sua asa inata luta e então esquece
O mundo rico em paz que belezas enaltece.