Foi a professora árvore que ensinou ao meu coração,
O ofício que ela aprendeu com Deus, mestre Artesão.
De dia, capturar a luz e dela tirar o meu combustível,
E como abelhas, fabricar maciços blocos de energia,
- Contribuinte que somos do universo inconcebível!
No tempo e no espaço, hoje é a missão que me guia.
 
Meu coração aprende com a imperceptível transição
Da pedra imóvel na sua lenta e segura transformação;
Nela, o espírito do universo despeja energia prânica,
Para montar o processo pelo qual uma matéria bruta

Luta, para um dia, transmutar-se em matéria orgânica.
E assim, a gênese do universo se realiza nessa labuta.
 
 Com a mariposa meu coração aprende efemeridade;
 E do majestoso carvalho ele sabe o que é eternidade;
 De um adquiro prudência, outro me ensina paciência,
 ̶  Sacerdotisas vestais que só me dão o bom conselho  ̶
 E com a humildade dos que cavalgam a luz da ciência
O meu coração amadurece e faz a travessia do espelho.

 

Meu coração, grávido de luz, aprende parindo a vida;

E com infinito prazer, exerce essa potência adquirida.

Nele, a natureza nua, diáfana, linda donzela mineral,
Observa um mítico pássaro chocando o cósmico ovo,
E um viril buraco negro cuspindo sua estrela seminal;

E da matriz do que ficou velho ele faz surgir o novo.

 

E assim o meu coração sobe os degraus da evolução,
E aprende a fórmula pura do universo em construção.
Como um Demiurgo, conjuga o Verbo Fundamental,

Para nele acrescer seu próprio vetor de continuidade.
Por mérito, o Princípio Único lhe concede o seu aval,
E a tudo que não tem nome ele garante  identidade.

 

Espionando a Natureza meu coração ávido aprendeu

Como ela sabe usar todos os dons que Deus lhe deu.
E tal um menino curioso, pelo buraco da fechadura,
Ele flagra sua própria Mãe despindo-se para o Amor.
Noviço rebelde, ele rompeu as trancas da clausura,
Para tornar-se cúmplice do próprio Princípio Criador.

 

Do nosso livro: "Travessia do Espelho"