UMA ODISSEIA NIILISTA
Qual seria o mais pesado
entre todos os pecados?
Nem ladrão, nem assassino.
Mais infame que negar
os deuses e os mitos,
seduzi-me em mergulhar
profundo meu abismo.
Era o céu que eu desejava.
Não um céu ingênuo e abstrato
desses que anseiam outro lado.
(Eu que não troco
a certeza da vida
Por seus empórios
de promessas divinas.)
Meu céu transcende mitos.
Muito além de paraísos,
Fui-me em busca a conhecer
A razão de tudo isso.
Era tudo engenharia das figuras no altar?
Ou bastou uma partícula pra tudo transformar?
De uma coisa eu não sabia:
Pra tocar questões etéreas,
Mais profundo eu teria
que entrar nas minhas trevas.
E nesta insana busca da verdade,
que minha dor de não saber curasse,
encontrei obscuros personagens.
Não há pecado mais bizarro:
Tornei-me andrajo, o próprio Dante.
Tivera eu ainda estado
à superfície ignorante.
Em busca das certezas,
mergulhei meu próprio inferno.
Que tortura há maior
Q’o’infinito, q’o eterno?
Não temo anjos ou demônios.
Fui mais próximo dos deuses
Que seus padres e seus santos.
Minha passagem para lá
No inferno eu fui buscar.
Agora estou de volta.
Vim aqui pra te contar.
Por detrás dos infinitos,
Após quarks e quasares,
Encerradas para sempre
As questões elementares.
Pra longe com esta tragédia.
Encerre-me este niilismo
As perguntas do intangível.
Não valem meu sacrifício.
A verdade não se esconde
Nos esgotos do infinito.
Ainda menos estará
Nos pilares dos divinos.
Entre as bordas do Universo.
E incertezas do abismo.
O instante é que me basta.
Sem inferno ou paraísos.
Para quê olhar pra cima,
Nas estrelas cintilantes?
Se completas minha vida,
Só me basta este instante.
Para quê olhar pra baixo,
No mundo das incertezas,
Se em teus olhos me entrelaço,
E teu ventre serpenteias?
Eis aqui o meu convite:
Ir buscar suas verdades
Muito além destes limites.