A Sábia Interna
Do âmago do nosso ser pras mais simples cenas da vida
Eis ali a sábia, sentada em posição de lótus, quietinha, mas atenta
Não hesita em ajudar no momento mais preciso
E na caótica cidade vou depressa até minha casa
Carros afoitos passam do sinal vermelho
O mercado cheira a peixe e cheira a lixo a céu aberto
Maltrapilhos na praça falam e olham para o nada
Meus diálogos internos se debatem por nada
Vou me juntando às almas penadas vivas
Anêmicas de viver, pálidas de apatia
Por padrões inalcansáveis
E a fila do pão, do ponto, do banco
Passam sem seguir meu passo
Lá vou eu planejando os escapismos
Acho que algo em mim quer expodir
A sábia interna vem e analisa
Onde saio pra respirar?
Onde paro pra me ouvir?
Horas iguais em sequência e cadenciadas
Placas de carro formam palavras que só eu vejo sentido
Uma lagartixa me cruza o caminho e devora as minhas moscas
Mal penso em algo-alguém e esse algo-alguém se materializa
As músicas da rádio me confortam mais que quem está ao meu lado
Livros de versos ressoam com meu universo
Cai uma pena leve e branca feito nuvem
E guardo-a no meu bolso
Um beija-flor entra na cozinha e rodopia em busca do sol
O pôr-do-sol das cinco da tarde
É um Ente a nos guiar
Mensagens sucessivas de motivação no celular
A sábia interna tinha razão
Tão quietinha, não aguentou; foi gritar
Se não aprendo no silêncio aprendo em meio aos gritos
Imagens gritantes que só se ouvem com o coração
Estou surda aos seus apelos?
Estou cega à sua doce presença?