Vejo...

Vejo o tempo consumir minhas entranhas

Com sua voraz fome,

Como cachorro que ladra os sonhos

Inocentes de uma criança...

 

Escuto o algoz desafeto dizer-me,

Em ruidos altivos,

Que estas paredes cândidas,

Onde o aconchego reflete liberdade,

São apenas rabiscos, reféns do próprio medo.

 

Talvez perdido entre asas alvas de sonhos,

Esteja a ninar em suas mãos

A grande ampulheta dos pensamentos,

Que vagam em contínua marcha

Nos trilhos de minhas plenas recordações.

 

Deslumbro com observância

Esta romaria de perguntas

Que seduz em contentamento

O rebanho de homens mulambos,

Inertes em taças de desesperanças.

 

Na multidão que peleja

Diante de caminhos crispentos,

Torno-me andarilho dos desejos mais dolentes,

Que encantam de brilho

Semblantes desgastados,

Concebidos na dor do parto

De almas sucumbentes de vida...

Marcelino Gomes da Silva
Enviado por Marcelino Gomes da Silva em 24/05/2024
Reeditado em 24/05/2024
Código do texto: T8070480
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