Vejo...
Vejo o tempo consumir minhas entranhas
Com sua voraz fome,
Como cachorro que ladra os sonhos
Inocentes de uma criança...
Escuto o algoz desafeto dizer-me,
Em ruidos altivos,
Que estas paredes cândidas,
Onde o aconchego reflete liberdade,
São apenas rabiscos, reféns do próprio medo.
Talvez perdido entre asas alvas de sonhos,
Esteja a ninar em suas mãos
A grande ampulheta dos pensamentos,
Que vagam em contínua marcha
Nos trilhos de minhas plenas recordações.
Deslumbro com observância
Esta romaria de perguntas
Que seduz em contentamento
O rebanho de homens mulambos,
Inertes em taças de desesperanças.
Na multidão que peleja
Diante de caminhos crispentos,
Torno-me andarilho dos desejos mais dolentes,
Que encantam de brilho
Semblantes desgastados,
Concebidos na dor do parto
De almas sucumbentes de vida...