Identidade Esquecida
A vida tem sido um emaranhado de complicações.
Tempestades, vendavais, ondas tenebrosas arrastando tudo.
Mal aprendo a me equilibrar em uma, vem outra,
E outra, e outra, e mais outra, infindáveis outras.
Às vezes paro um pouco pra respirar, retomar o fôlego.
Encosto sempre em uma casa velha, desajustada,
Parece abandonada, destruída do tempo,
Por ter estado ali há eras.
Enquanto descanso sempre me pego olhando uma gaiola,
No melhor lugar da varanda da casa,
Parece segura a gaiola, bonita, parece até quentinha,
A porta sempre aberta, convidativa, comida lá dentro.
Olho e já penso: queria ser um pássaro e morar lá dentro.
Me pergunto porque está sempre vazia.
Aí olho em volta, atraída pelo canto dos pássaros,
Os vejo felizes voando, livres, de árvore em árvore,
Expostos ao sol e chuva, às tempestades e vendavais,
A todas as ondas que me cansam para continuar de pé.
Nesse momento percebo: os pássaros sabem quem são, identidade.
Eles têm, neles, todas as virtude e ferramentas necessárias
Para lidar com todos os vendavais da liberdade,
E sabem disso, não se esquecem.
Eles sabem quem são: não foram feitos para a inércia de uma gaiola.
Meu sorriso volta ao rosto,
Os pés cansados e as feridas do corpo e da alma
Tornam-se motivos de gratidão.
Me levanto, retomo meu caminho,
Mais forte, compartilhando, servido, sorrindo.
Marta Almeida: 21/03/2024