Olhar arquitetônico

O arquiteto quando olha,

mão no queixo,

fé no eixo,

o horizonte febril do sol

descarregado sobre a montanha.

O arquiteto quando sonda

a estrutura das vigas

retorcida no espectro

das formas,

na erupção da pedra,

na liga, na verga,

no cimento e no molho viscoso do concreto.

O arquiteto prevê,

sobremaneira,

entre madeira,

revestimentos e assoalhos,

depois os passos desorientados

do futuro morador.

As horas funestas,

as alegrias incertas,

as corrigendas dos corpos sobre as camas,

o rés de chão,

o contorno da escada,

gentis balaustradas

e a confluência

discreta do carcomer

de eras irmãs.

No esqueleto solto

de ferros, polegadas,

de alvenarias e mansardas:

um recosto, um demão.

Nos estilhaços faiscantes das pingadeiras

sem platibandas (ainda),

alegres, festeiras:

um contraponto, um porão.

A visão do arquiteto

atina sempre o inesperado,

o que é velado

e a profusão.

Sem sombra,

sem paisagem,

a concretude inerente da ilusão.