Tempos que preenchem vidas inteiras
Ela entrou.
Nem gente, nem móveis, nem bichos, nem anda.
Tudo cheirava mofo, casa vazia.
Cheirou aquele cheiro,
Mas logo sua memória lhe trouxe outros cheiros.
Cheiros de cheios, de espaços preenchidos,
Cheiros de alegrias, de gente bonita.
Lembrou-se das macarronadas da mãe,
Da felicidade de comê-la:
Era só macarrão, mas enchia a casa.
Lembrou-se dos risos, das gargalhadas, das risadas engraçadas,
Do ar de cheio, de completo, de pleno,
Coisa de ela não via na época,
Apenas sentia, sem saber direito o que.
Agora, porém, com tudo vazio e malcheiroso,
Compreendia completamente o valor do que tivera ali,
O valor de quem fora ali,
Que a definiram, que a marcara, que a moldaram,
Plena, completa, cheia, inteira.
Marta Almeida: 06/11/2023