Palavras

Klem Machado / Júnior da Prata

Sou uma letra

A menor de todas, só.

Escrita, impressa

Aguardo sem pressa

Se me uno a outra letra

Por menor que seja, pó

Um sentido brota

Desatando um nó.

Unido a outra e outra

Sou uma Palavra.

Que busca desatenta

Formatar o argumento.

Esbarrando em vírgulas

Pausando em pontos.

Palavra por palavra

Acabo em uma oração.

Com ou sem discernimento

Uma breve citação.

Orações impressas

Em preto no branco papel.

Pensamentos, desilusões

Mentiras, verdades, ilusões.

Um livro, um poema

Uma canção, uma carta.

Um dito popular

Algo que é preciso falar.

Sou uma palavra repetida

Ou nunca, jamais dita.

A voz do ditador

O pedido de socorro.

Sou aquela que agita

Que xinga, que grita.

Que alivia a dor

E acalanta o coração.

Que emana amor

Que exala tesão.

Que promete baixinho

Mas também vira um não.

Aquela que faz a guerra

Aquela que a vida encerra.

Que vibra na vitória

E muda quando perde.

Sou a palavra vacilante

No lábio do bebê.

Que repetidamente cativa

O grande coração da mãe.

Aquela tonitruante

No palanque do orador.

Que junto com salivas

Chega como bomba.

Uma sílaba em destaque

No canto do menestrel.

Que como chiclete cola

E se repete a toda hora.

Um hiato perturbador

Na pena do trovador.

Que causa impaciente

Temor sobre o que virá.

Sou aquela que ofende

E agride sem querer.

Como uma resposta

A um falso julgamento.

Muitas de mim reunidas

Se transformam em língua viva.

Bem usada, mal usada

Muitas vezes apagada por a verdade assim dizer...