Alados na Balança das Palavras
Nestas palavras, sentido vago se esvai,
Expressões, gestos, malícias de outrora,
De um ser já morto, em desabafo, ai!
Piada macabra, riso que dispara.
Qual termo usar no desabafo meu,
O peso que em mim habita e consome,
O peso das decisões que não flui,
Ah, qual esse peso que me consome?
E o peso do que escrevo, como medir,
Que palavras leves devo escolher,
Para aliviar, fazê-lo diminuir,
Escrever, toneladas reduzir.
Tira-se o peso por inteiro, então,
Ou apenas um terço ou metade,
Um pouquinho apenas, ilusão,
Mas que traga alívio de verdade.
Assim, escreveria milhões, sem cessar,
Viveria entre versos e rimas,
E, quem sabe, um dia, a ventania,
Me leve a um lugar sem peso, enfim.
Mas, ao voar, será que não carregaria,
Outro fardo, o peso de ser leve,
Ao ver os outros, sob o peso, caídos,
Críticas ao alívio que já se teve?
Então, quando iremos sem peso viver,
E nos libertar das cargas pesadas,
O peso dos outros, o peso do ser,
Quando, afinal, seremos alados?