Meu lugar
Bendita perturbação!
A cama me perturba, a casa me perturba, intrigam contra mim.
A gente malfadada me perturba, a vida, os sentimentos, o trabalho,
Tudo me perturba, intriga, me inquieta, me desgosta.
Nada me completa, nada me preenche completamente.
E não é à toa:
Corri, nadei, dancei, andei, vaguei, vagueei,
Somente não amei,
Mas ainda assim amei, meu cachorro, meus emprestados filhos,
Meus pais amados, minha raça de irmãos, todos eles.
Incompleta como sempre.
Subi morro, desci morro,
Angustiada, fora do meu lugar.
Mas qual seria esse meu lugar?
Onde fica isso?
Tivesse o endereço, voaria para lá, dizia eu.
Será? Hummm.
Com o tempo e a reflexão sábia, uma coisa descobri:
Meu lugar não era um lugar, não era um onde,
Mas quem com tripe,
Um criador, vivendo, com ele, três coisas somente:
Construção nessa vida, intelectualidade nessa vida e relações.
Andei tanto, para descobrir isso,
Tão simples, tão óbvio, tão básico...
As maiores verdades moram na simplicidade.
A sabedoria veste-se de simplicidade.
Aí me lembrei: bendita perturbação!
Se tivesse me deixado quieta, me paz,
Teria eu morrido na ignorância.
Salvou-me a vida.
Marta Almeida: 09/03/2023