Roda de Samba e do Mundo

O samba não criou a roda

A roda criou o samba

Senzala fria, noite dolorida

Minutos sagrados de alívio na vida

Um negro olha o outro

Sangra coração

Nas mãos só as palmas

Mesmo acorrentadas

Tirando um som

A dor vem dos calos

O som dos estalos

Fazendo ecoar

Novo batucar

Aquele que podia

Tocava o tambor

Lembrava o louvor

A seus ancestrais

E a Diáspora amarga

Ia se desfazendo

Roda a roda no semba

Roda a roda no samba

Negro vai renascendo

Tanto tempo em labuta

Vem aquela fajuta

A abolição

Jogou preto à rua

Na lei da vadiagem

Surge nova prisão

A roda vai seguindo

Pro fundo do quintal

Onde tem nas tias

A voz matriarcal

Já tem samba

Tem nome

Vem pelo telefone

Já no morro é escola

E expande a história

No Estácio, São Carlos

Chegou a sua hora

Ganha enfim o Brasil

A raiz que é tão nossa

Perde sua essência

Na branca e nova bossa

Mas o samba agoniza

O samba não morre

Diz o eterno poeta

Que alguém o socorre

Assim vira clube

O clube do samba

Respiro de mais um poeta

Resgatando seus bambas

Lá no fundo de novo

No fundo do quintal

É raça brasileira

Pagode pra valer

Sobrevive ao moderno

Certamente é eterno

Hoje eu ouço Caffe

Hoje eu ouço Geraes

O samba não faz roda

A roda faz o samba

Se olhou, batucou

Não se acaba jamais