BRINCADEIRA OU NERO

BRINCADEIRA OU NERO

 

Parece até brincadeira,

Mas sempre há algo sério,

Se alguém faz de lareira,

A casa e o colo materno.

 

Mas tudo pode ser intriga,

Se quem escreve a história,

Pois o vencedor não fadiga,

Ao querer somente a glória.

 

E nada é tão Tácito,

Se há um mau Suetônio,

Pois foi nesse cenário,

Que Roma finou seu sonho.

 

Seria a República o lema,

Mas foi o Império seu viço,

E Roma é eterna ou poema,

Que sério é mesmo um vício.

 

Então, se eu pudesse me ler,

Talvez resgatasse a história,

De cada verdade ou poder,

Se o conto virá da memória.

 

Seria eu só um poeta,

Se não vivesse a tragédia,

Ou fosse a noite repleta,

Do vinho de cada comédia.

 

Teria eu visto a Nero,

Ou cada domus invadida,

Nos áureos dias de prelo,

Das linhas de cada intriga.

 

E escrito sou canto liberto,

De quem já viu o começo,

Porquanto sou o manifesto,

Ungido desde meu berço.