A CELA E PROMETEU

 

Estive emprestado à cela,

Só não sei porque ela existe,

Desde quando o olho remela,

E há choro que tanto insiste.

 

Machucaram a pimenta no olho,

E cegaram meu sonho de vida,

Mas suporto ser frito no óleo,

Só não quero sua boca maldita.

 

Quando vejo tanta ingratidão,

Misturada ao fel do veneno,

Penso sobre a minha ilusão,

Que perdoa até não sabendo.

 

Porque sou o escravo de Deus,

Pois só amo sem meia pataca,

E o que sinto antes do adeus,

É a pena de quem fere e mata.

 

Pois o carma da vida é ateu,

Se descobre o fundo da lata,

Com a borra de sangue só meu,

Derramado por crer ser de nata.

 

Foi assim que meu leite ferveu,

Transbordante de mel e garapa,

Por querer ser como Prometeu,

Mas ver que no fogo se mata.

 

Só, então, vivo a triste versão,

Desde que até Zeus é traído,

Por quem diz ser até um irmão,

Mas é vírus que foi contraído.

 

Só o poeta terá permissão,

De sacar o que tem ocorrido,

Mas seu verso trará a ilusão,

Pois Quíron também foi ferido.