APRENDI A AGRADECER

De repente estaquei,

assustada com o meu pensamento.

Será que vou pela vida depressa de mais?

Já passei á muito o meio da caminhada,

já devia ter parado

e feito o ponto da situação.

Fui colocando fiadas de tijolos

assentes com cimento

sem me aperceber da altura das paredes

e já devia ter começado

a construir o telhado

de modo a terminar a construção

e poder gozar comodamente

os seus benefícios.

Preocupei-me demasiado

em construir um mausoléu,

temo não ter tempo para os acabamentos.

Gostava de ter tempo

para suavizar os vários cantos e fendas.

Agora interrogo-me,

porque decidi construir

um edifício tão grande?

Afinal uma construção mais maneirinha

deixava-me mais tempo

para saborear a vida

com mais desapego,

mais flores, mais cheiro,

mais amigos, mais sabor.

Depois de partir para a outra vida

não preciso de nada disto.

Todo o processo

foi um ato de amor e gratidão.

Amor porque não concebo nada

que não seja adoçado com amor,

apimentado com paixão.

Gratidão, porque tanto agradeço

as coisas boas como as más.

São as coisas más que me fortalecem.

As coisas boas

são a recompensa pelo esforço,

pelo sacrifício, pela afronta,

para que a auto-estima

se mantenha no nível recomendado!

Aprendi a agradecer.

Agradeço a mim

por nunca ter desistido

de seguir em frente,

apesar das afrontas do passado

me morderem os calcanhares,

para me impedirem de avançar.

Agradeço aos outros,

porque me facultaram os materiais

para ser como sou.

Agradeço á vida

que sempre esteve comigo

nos bons e nos maus momentos.

Se tiver que atravessar o rio

não pestanejo.

No final da travessia

é só torcer o vestido.

Nunca senti vocação

para aprender a resmungar,

há coisas que é tempo perdido.

©Maria D. Reis

Copyright 22/08/21

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 04/09/2021
Código do texto: T7334882
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