OS VENENOS DA EXISTÊNCIA
Eu sou uma guerreira vitoriosa.
Enfrentei e lutei contra as minhas cobras
e os meus dragões.
Para este confronto entre mim e o mal
Recebi como prenda
uma espada, um escudo e uma maça.
O escudo queimou-se logo no início,
fiquei apavorada.
Tentei não fazer barulho
para não atrair a atenção das bestas.
Eu ainda era muito frágil e desprotegida,
precisava fortalecer-me
para enfrentar as feras destemidamente.
Enfrentei dragões cuspindo mentira,
inveja, ciúme, ganância, na arena da vida.
A minha espada era de amor,
a maça de simpatia, o escudo de cuidado.
O escudo queimou-se
com o bocejo do dragão.
A espada e a maça ficaram contaminadas
com o hálito venenoso das selvagens.
Eram tantas, que fugi delas covardemente
porque sabia que não tinha nem coragem
nem habilidade para vencê-las.
A sabedoria fortaleceu-me.
O dragão acabou por morrer queimado
com o seu próprio fogo.
A noite estava fria e a cama era de palha.
Hoje não sei onde fui buscar coragem
para aniquilar a maldita cobra.
Aqui eu usei inteligência,
encurralei-a deixando-lhe os meios,
para se sentir instintivamente segura
pensando que estava escondida.
Aprendi uma lição valiosa.
Superarei todos os obstáculos com graças.
Em situações extremas,
reunimos coragem e bravura
para nos preservar.
A partir de agora,
os meus olhos estarão abertos,
para qualquer situação ameaçadora
sem medo, mas com determinação
de estar a fazer o que está certo.
Muitas vezes somos confrontados
com cobras perigosas,
que ameaçam a nossa existência
porque são portadoras de veneno mortal.
Temos que matar o monstro ou morreremos.
Embora eu tenha ouvido o som sibilante,
encarado os olhos brilhantes
e a boca escancarada,
que aceleram o coração e congelam o sangue,
alcancei o poço da coragem e determinação
e resolvi que a minha existência
não seria envenenada.
Valeram-me os meus anjos da guarda
que estiveram sempre ao meu lado de atalaia.
Hoje, matei a cobra-mor
Incomensuravelmente grande,
a abarrotar de ganância,
por ter engolido todas as outras;
a das mentira, da inveja, do ciúme,
da ganância e do perigo.
Foi uma em muitas.
A minha coragem e destemor superaram
e triunfaram sobre esses obstáculos.
A minha verdade e valentia prevaleceram
sobre o que era errado e perigoso.
Hoje sento-me no topo das minhas vitórias.
Eu também sou uma cobra,
Uma criatura de luz,
Agindo apenas defensivamente.
Mordo o rabo, faço um círculo
e não há mal nenhum
que se atreva a atacar-me.
Eu sou um todo completo,
sem começo nem fim.
Agora entendi o aviso
que soava dentro de mim
- abre os olhos.
Se não fosse o meu anjo da guarda,
a cobra apanhar-me ia desprevenida
e dar-me-ia a estocada final.
Agora posso suspirar de alívio.
Eu matei a cobra, que há muito tempo
sibilava no meu ouvido.
Agora que venham outras,
se elas se atreverem!
© Maria Dulce Leitao Reis
Copyright 20/06/21