Assassinei

Cheguei e assassinei a minha patente pura

Ainda que saiba que a essência a segura

Tentando sobreviver ás custas da loucura

Na esperança que o meu ego não a dilua

Ego que assegura que no meio da confusão

Sobreviva firme sem perder a postura

Enquanto atravessava o inferno sem uma mão

Que me ajudasse com um toque de ternura

Tendo eu que me forçar a estar á altura

De ir buscar forças sem qualquer ajuda

E no fundo dessa elaborada costura,

Chora a minha inocência agora muda

Inocência que gritava esperando ser ouvida

Sentindo-se sufocada e pela dor digerida

Durante a digestão de uma alma sofrida,

Que sem o sofrimento não teria comida

Não teria alimento para se tornar

No que um dia viria a temer nunca abandonar,

Esta persona que tende tende a personalizar

Tudo o que teme não conseguir controlar

Persona despreocupada agora indiferente

A toda a mão que se estende em sua frente, ou diz

“Maria, a tua evolução é surpreente”

Desconhecendo o desvaneio da minha mente

Desconhecendo o quão tropecei na nascente

Que me foi elevando nesse caminho crescente

E o que debaixo das pedras do rio enterrei,

Para me certificar que podia continuar presente

Presente na vida e na trajetória que projétei

Antes de me desviarem da linha decente

Que separa o abismo da luz encandeceste

E da minha versão assassinada, a inocente..

Então agora estudo os meus demónios

Para que os possa tomar como heterónimos

E um dia possamos sorrir e dançar juntos

Em matrimónios onde assassinem conjuntos

Conjuntos de assuntos que imundos,

Inundaram-me com o pensamento obscuro

Que corrompeu a minha pureza no escuro

Cuja eu própria assassinei neste mundo, duro

Mas no fundo, ainda sobrevive uma réstia

Na esperança de um dia poder sair da toca

E tocar em tudo o que meu destino invoca

Dentro de mim, onde o meu ego não desfoca.

Maria Ribeiro Meireles
Enviado por Maria Ribeiro Meireles em 16/06/2021
Reeditado em 16/06/2021
Código do texto: T7280112
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