Assassinei
Cheguei e assassinei a minha patente pura
Ainda que saiba que a essência a segura
Tentando sobreviver ás custas da loucura
Na esperança que o meu ego não a dilua
Ego que assegura que no meio da confusão
Sobreviva firme sem perder a postura
Enquanto atravessava o inferno sem uma mão
Que me ajudasse com um toque de ternura
Tendo eu que me forçar a estar á altura
De ir buscar forças sem qualquer ajuda
E no fundo dessa elaborada costura,
Chora a minha inocência agora muda
Inocência que gritava esperando ser ouvida
Sentindo-se sufocada e pela dor digerida
Durante a digestão de uma alma sofrida,
Que sem o sofrimento não teria comida
Não teria alimento para se tornar
No que um dia viria a temer nunca abandonar,
Esta persona que tende tende a personalizar
Tudo o que teme não conseguir controlar
Persona despreocupada agora indiferente
A toda a mão que se estende em sua frente, ou diz
“Maria, a tua evolução é surpreente”
Desconhecendo o desvaneio da minha mente
Desconhecendo o quão tropecei na nascente
Que me foi elevando nesse caminho crescente
E o que debaixo das pedras do rio enterrei,
Para me certificar que podia continuar presente
Presente na vida e na trajetória que projétei
Antes de me desviarem da linha decente
Que separa o abismo da luz encandeceste
E da minha versão assassinada, a inocente..
Então agora estudo os meus demónios
Para que os possa tomar como heterónimos
E um dia possamos sorrir e dançar juntos
Em matrimónios onde assassinem conjuntos
Conjuntos de assuntos que imundos,
Inundaram-me com o pensamento obscuro
Que corrompeu a minha pureza no escuro
Cuja eu própria assassinei neste mundo, duro
Mas no fundo, ainda sobrevive uma réstia
Na esperança de um dia poder sair da toca
E tocar em tudo o que meu destino invoca
Dentro de mim, onde o meu ego não desfoca.