PALAVRAS
Quando parto e reparto
Esta ânsia sofrida
Ou alegremente vivida
E saboreada em cada palavra
De preconceito e discriminação despida
É como se ficasse mais leve
Envolvo-me docemente
Neste turbilhão de palavras
E recolho-me debaixo da sua pele
Tão doce, meiga e aveludada
E suave como o mel
Adoro palavras
Mas não gosto de palavrinhas e palavrões.
Com elas tudo faço e arquiteto
Teço alegrias e dores
Entrançadas com orações
E pérolas de brancas cores.
Teço choros e risos
Que elevo ao céu aberto
Enfeitados com narcisos.
Insuflo as palavras com a luz da vida
E elas pugnam e sangram
Cantam e riem
Pulam, dançam e aliviam.
Algumas até matam
Essas são as palavras más
Estão em grades enjauladas
Para não causarem qualquer dor
Só me sirvo das boas
Aquelas com as quais faço amor
Sussurradas ao ouvido
São palavras dóceis e bem timbradas
Simples e com lugar definido
Sôfregas e deliciosamente molhadas
Que deslizam suavemente
E escorregam por entre os dedos
Ágeis e compridos
Rápidos ou vagarosos
São palavras que dão arrepios
Começam por baixo e vão até arriba
E o corpo a tremer e fraquejante
Com borboletas na barriga
Soltam gritos lânguidos e ardilosos
Num prazer estonteante
Que inebria e sacia
Ai palavras grávidas de magia.
Odeio as palavras que amesquinham
Eu amo as palavras que me esquadrinham
Cada átomo do meu ser
E me arrancam sensações alucinantes
Emoções de puro prazer
Que nunca sentira antes
E me fazem beber a vida
Em longos e ávidos gorgolões
Ai palavras que me adoçam e ressuscitam
Cada fibra morta do meu corpo
São arrepios, suores e tesões
Como o vento bramindo na gigante acácia.
Eu sou uma pedra da natureza
Que se destacou e floresceu
As sementes foram palavras
Que coroaram a minha audácia!
Direitos de Autor
©Maria Dulce Leitao Reis
28/05/14