OS MEUS OLHOS PERDERAM A COR

Ao nascer,

eu tinha olhos verdes de esperança,

debruados com pestanas de alegria.

Estava feliz,

por saír do ventre de minha mãe.

Era um lugar escuro

e cá fora havia sol,

um riacho de água cristalina

e passarinhos a cantar.

A minha madrinha

quis pôr-me o nome de Cristina

mas o meu pai preferiu Maria.

O que eu ainda não sabia,

fui aprendendo á medida que crescia.

Aprendi que este mundo

era um lugar deprimente.

Aprendi a desenvolver características

que me permitissem defender

das bestas que me faziam frente.

O ar tornou-se pesado,

o rio secou,

o sol escureceu,

envolto em nuvens negras,

os passarinhos deixaram de cantar

e ouviam-se morteiros

e metralhadoras a disparar.

O tempo ia passando

e á medida que eu enferrujava

as armas do mal

ficavam mais sofisticadas.

Hoje o mundo

é um lugar onde se ouve

a fome e a miséria a gritar.

Os meus olhos

perderam a cor da esperança

e agora são escuros,

da cor da dor e da tristeza.

Quis voltar ao lugar solitário

e aconchegante donde vim,

o ventre de minha mãe,

mas já não havia lugar para mim!

©Maria Dulce Leitao Reis

Copyright 01/05/21

Maria Dulce Leitão Reis
Enviado por Maria Dulce Leitão Reis em 02/05/2021
Código do texto: T7246301
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