HAVERÁ SEMPRE UM AGRAVO
O tempo passou,
tu ainda não chegaste
e eu só não te esqueci,
porque continuo a sentir os teus passos,
nos silêncios dos meus sentidos,
musicados com o murmúrio cálido
que vem das ondas do mar
e se desfazem em espuma rendada
quando beijam a areia.
Deixo as notas melodiosas
beijar os meus ouvidos
numa carícia de veludo vermelho.
Ah como eu adoro beijos vermelhos.
Beijos ardentes, afogueados
que me deixam as pernas a tremer.
Eu amo o mar.
Espalho o meu olhar destemido
sobre a vastidão azul
e sinto-me menor que uma formiga.
O mar lava a minha alma
acalma o meu coração,
alivia a minha carne dorida.
Queria ficar aqui para sempre
a contemplar o mar e o céu.
Ambos sao azuis,
por isso me transmitem
a mesma tranquilidade.
Nao posso ficar aqui,
nao posso viver de contemplação.
Há sempre algo que me condiciona
e mutila o meu desejo de ser livre.
Por mais que a gente se esforce,
nunca conseguiremos usufruir
de liberdade total.
O que acabei de dizer
é um contra-senso,
liberdade é liberdade,
não há liberdade total ou pela metade.
A liberdade
não é calculada por percentagem.
Quer fora quer dentro de mim,
posso conseguir conforto, segurança,
bem estar, estabilidade
mas nunca será em plenitude,
haverá sempre um agravo a exercer fricção.
Plenitude, apenas no reino de Deus.
Os lugares estão reservados
para quem tiver bondade no coração!
©Maria Dulce Leitão Reis
Copyright 30/04/21