Medo
Medo
Nos recantos mais escuros sons misteriosos ecoam.
Transportados pelo vento norte penetram em cada casa,
Os habitantes amedrontados fecham os ferrolhos e trancam as portas.
À lareira contam-se histórias de almas penadas perdidas no tempo.
Aterrorizados os vivos escondem-se dentro dos lençóis,
Em cada canto uma ténue luz ilumina o escuro.
Pobres coitados, as pequenas chamas projetam sombras irreais.
Sem dó alimentam o terror com figuras incorpóreas.
No céu a lua não apareceu… mau presságio… é noite das almas.
Nas torres piam corujas, lá longe ouvem-se os mochos
Pelos ares esvoaçam morcegos… olhos brilhantes rasgam o breu…
Roncos ecoam na noite, monstros terríveis acercam-se.
Rezas aflitas soam nas casas… pedem proteção para os vivos…
Imploram clemência e paz para os mortos…
Finalmente o sol acorda e incendiar os ares,
As corujas e os mochos dormem e os morcegos recolheram-se.
Os vizinhos acordaram e os roncos calaram-se…
O vento continua a soprar sons que recolhe no ar.
As almas recolhem às tumbas fugindo da luz solar.
A lua adormeceu, o sol acordou e o vento continua a soprar.
Pobres almas vivas e supersticiosas,
Continuam em maldições inventadas pelo medo,
Terrores passados por histórias de tempos idos
Ditadas pela crendice e pela ignorância…
Alimentada pelo desejo de controlo e submissão.
Pobres mentes desinformadas, manipuladas e amedrontados…
O vento é só vento... As aves só aves noturnas…
Os roncos vizinhos que dormem… o escuro a ausência de luz…
As almas penadas fruto do medo em que nos ensinaram a acreditar.