APREENSÃO
Apesar da enorme paixão
Que tenho pela vida
Não há muitas coisas
Que me apeguem a ela.
A vida está cheia de futilidades
E malefícios
Mas aquelas ás quais me apego
São de valor incalculável
A gratidão,a partilha, a justiça,o amor
Tudo bem condimentado com empatia.
Tenho medo de morrer.
Tenho medo de fechar os olhos
E não voltar a ver.
Não tenho pena de deixar o Bentley,
A mansão, a piscina, a casa de campo
Porque não olho para as coisas
Com os olhos cheios de cifrões
Mas tenho pena de deixar
Os sentimentos e as emoções.
Tenho medo de faltar á minha filha,
Aprendi a ler o seu olhar
Cada traço do seu rosto
E sei que precisa de mim.
Não é bem medo, é apreensão...
Fico irritada quando vejo alguém
Olhando para ela de lado.
Para apaziguar o meu íntimo, digo para mim
Não ligues, esta ave rara não é pessoa.
Eu fico cada vez mais convencida
que este mundo é disfuncional
Não há amor, respeito, atenção.
Gostava muito
De ter um monte de irmãos
Algum deles
Haveria de ser gente boa.
Com algum deles
Eu haveria de me entender.
Com algum deles
Eu haveria de ter algo em comum.
Algum deles
Haveria de ser meu amigo.
Mas a vida é conforme é
E eu não posso inventar
Um irmão que não tenho!
O que eu quero agora vida minha
É que me deixes cuidar da minha menina!
Vá lá vida, partilha comigo
Um pouco da tua complacência
E generosidade
Eu prometo amar-te incondicionalmente
Sem rezinguices nem reclamações.
Vida, por favor responde-me a uma pergunta
Porque há gente tão vil e tão mesquinha?
© Maria Dulce Leitao Reis
Copyright 08/04/21