Fim

Casa tava limpa, louça lavada, banheiros arrumados,

Tudo organizado, roupa passada, comida na mesa, quentinha.

Ela deixou tudo assim, prontinho.

Se vestiu, a melhor roupa, de domingo.

Calçou seu melhor salto, botou maquiagem,

Tinha ido ao cabeleireiro no meio da tarde,

Agora, à noitinha que tudo ficara pronto,

Ficara ela também prontinha,

Pesou uma caneta no armarinho,

Arrancou uma página de um caderno velho,

Escreveu um bilhete pro marido e pros filhos,

Marido chegaria logo logo do trabalho,

Filhos já estavam à caminho de casa, vindo da escola.

Disse que os amava, que vivera inteiramente para eles todos aqueles anos,

Hoje, disse ela, estou saindo,

Escolhendo a mim uma única vez na vida,

Deixo de viver.

Fiquem bem,

Não é sobre vocês, mas sobre mim, minhas escolhas.

Escolhi parar de sofrer.

Pegou um vidrinho de remédio,

Colocou um punhado enorme de comprimidos na mão direita,

Bebeu todos com um copo de água que estava no criado mudo,

Deitou-se e dormiu, seu último sono;

Marta Almeida: 05/04/2021