Versos dualistas
Tudo o que é claro é obscuro,
Raio de sombra que se alastra
Nas telhas de todo dia tão duro.
No beco aberto há sempre um muro,
Esse tudo ou nada antecipado
Aos difíceis degraus de qualquer futuro.
E este mundo de sombras e claridades
É ilusão ou realidade, como a vida
Que fulge na escuridão a nossa verdade.
No chão esburacado do verão
O sol e a chuva se completam
Nas pedras grudadas em minhas mãos.
O instante é um imóvel inseto
Na grama que encobre a erosão
Do tempo desnudo e sempre inquieto.
Eis o mundo com seus raios e relâmpagos!
O esplendor de toda vida efêmera
Rasteja nos túmulos de nossos podres âmagos.